“Não vamos baixar a guarda. Não podemos
permitir que essas organizações venham sitiar nossa cidade”, diz promotora
Um
trabalho contínuo e silencioso desarticulou, nesta quinta-feira (31), a
organização criminosa ‘Bonde dos 13’, principal responsável pelos ataques que
abalaram a ordem pública no estado, em outubro de 2015. Após cumprimento de 204
mandados judiciais, o Ministério Público do Estado do Acre (MPAC) fez uma avaliação
da operação denominada ‘Fim da Linha’, considerada como a maior já deflagrada
no combate a organizações criminosas no estado do Acre.
A
ação de enfrentamento originou-se a partir de um pedido do MPAC, por meio do
Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), para que a
Polícia Civil instaurasse um inquérito.
“O
Gaeco solicitou à Polícia Civil que instaurasse um inquérito para apurar,
especificamente, a atuação dessa organização criminosa, que é uma organização
regional, existente no estado do Acre desde o ano de 2013”, explica a
coordenadora do Gaeco, promotora de Justiça Marcela Ozório.
Dos
204 mandados judiciais cumpridos, 164 eram de prisão preventiva e 40 de busca e
apreensão. A operação foi deflagrada em sete municípios acreanos, Rio Branco,
Porto Acre, Sena Madureira, Bujari, Senador Guiomard, Acrelândia e Manoel
Urbano, e desencadeada em mais dois estados, Goiás e Bahia.
Em cinco
dias, o Gaeco apresentou à sociedade acreana dois resultados expressivos em
ações de combate à criminalidade, uma vez que, além da Operação ‘Fim da Linha’,
o grupo denunciou, por meio da Operação ‘Sinistros’, quatro pessoas envolvidas
em fraudes no Seguro de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Via
Terrestre (DPVAT), na terça-feira (29).
Facção criminosa possui conselho e
líderes nos bairros de Rio Branco
A
atuação dessa organização no Acre fez aumentar sobremaneira a quantidade de
crimes de homicídio e diminuiu o índice de elucidação destes, já que os crimes
praticados tinham características de execução e acerto de contas.
O
‘Bonde dos 13’ é integrado por um Conselho, de onde partem as regras e são
aprovados os ‘batismos’ de novos integrantes, bem como, são dados os comandos
aos membros responsáveis por cada bairro.
De
acordo com Marcela Ozório, o MPAC vem, há algum tempo, trabalhando em conjunto
com a Polícia Civil na repressão ao crime organizado. Entretanto, essa
integração se intensificou a partir dos ataques criminosos de outubro de 2015,
quando a ordem pública foi afetada sobremaneira no estado.
Na
época, o ‘Bonde dos 13’ chegou a divulgar raps,
cujas letras faziam apologia à criminalidade e falavam sobre como funcionava a
organização e seus integrantes. Segundo a promotora, em outubro de 2015, a
facção criminosa viu a oportunidade de tentar enfrentar o Estado de uma maneira
que abalou toda a sociedade.
“As
pessoas estavam com medo, estudantes saiam das universidades mais cedo e os
comércios fechavam antes do horário habitual. Foi uma onda de instabilidade
social que tentaram impor ao povo com a prática de crimes”, lembra a promotora.
Ainda
segundo ela, o número expressivo de prisões demonstra, para a sociedade, o
engajamento das instituições e o compromisso com a promoção da paz social.
Cerca de R$ 300 mil em aplicações
financeiras foram bloqueados
O
material apreendido implica em um conjunto probatório de provas testemunhais e
periciais que fundamentarão o decorrer da investigação para que os acusados
sejam devidamente condenados.
A coordenadora
do Gaeco, promotora Marcela Ozório, pondera que esta é apenas a primeira fase
de uma investigação que vai ter continuidade na busca da punição de outros
integrantes.
“Muitas
outras prisões vão ocorrer e haverá o cumprimento de outros mandados de busca.
Não vamos baixar a guarda. Não podemos permitir que essas organizações venham
sitiar nossa cidade”, ressalta.
Para
o coordenador adjunto do Gaeco, promotor de Justiça Bernardo Albano, o
Ministério Público cumpriu seu papel como defensor da sociedade. “A Polícia Civil
tem atribuição investigativa, o Ministério Público tem função investigativa e é
titular da ação penal. Cumprimos nossa função ao desmantelar a principal
organização responsável por crimes de roubo e homicídio no estado”, ressalta.
Operação impediu que presos de alta
periculosidade fossem soltos
Durante
a operação, foram cumpridos nove mandados de prisão em desfavor de pessoas que
estavam cumprindo pena no regime semiaberto. A importância desses mandados foi
impedir que esses presos ganhassem benefícios.
“Temos
exemplos de pessoas que estavam prestes a sair da prisão e são de extrema
periculosidade à sociedade. O cumprimento desses mandados garantirá que eles
continuem presos”, explica o coordenador do Centro Operacional de Combate às
Organizações Criminosas do MPAC, procurador de Justiça Álvaro Pereira.
O
chefe do Gabinete Militar de Segurança Institucional do Ministério Público
Estadual, Coronel Romário Célio, considerou a operação um momento histórico em
sua carreira militar. “Milito há mais de 30 anos na área. Nunca vi uma operação
dessa organizada no estado”, diz.
Para
o procurador-geral de Justiça do Acre, Oswaldo D’Albuquerque Lima Neto, o
trabalho iniciado pelo Gaeco trouxe resultados expressivos à sociedade.
“É
elogiável todo o esforço empenhado pelos membros do Gaeco. Vamos continuar
investindo para proporcionar todas as condições para que o Gaeco possa
continuar desempenhando suas atribuições e aperfeiçoando suas atividades em
prol da sociedade”, avalia Oswaldo D’Albuquerque.
Texto e fotos: André Ricardo
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