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Os joelhos contam a história de uma mulher



Que sou louco pelas mulheres da cabeça ao dedão encravado dos pés, eu jamais escondi, o chato é que sempre volto para casa com as calças puídas, igual a de um pagador de promessas durante procissão, de tanto andar o percurso de joelhos, pedindo a Deus que atenda meu simples pedido: uma namorada que eu possa falar que a melhor coisa da vida é amar e amado ser – muito moulin rouge no final de semana – tornando-se a minha bandeira de qualquer nação que ela fosse.

Amo mulheres, por mais que uma certa rapaziada pense que mordo fronha e tão pouco me interessa a idéia de mijar fora do vaso. Mas como a maioria dos homens eu também tenho sonhos e desejos com esse ser vindo de nossas costelas.

Por mais que a gente ame um lindo diabo desses, sempre vai se concentrar num cantinho dela. Uns gostam de bundas, outros de orelhas e a quem prefira as áxilas (acredite, tem gente que gosta). Eu também aprecio. Peitos.

Já fiz até o elogio das dores cinzas dos cotovelos, lembra, Maria, aquela ode lupicínica?

Mas gosto mesmo é de joelhos.

Ali a pessoa amada nos conta a vida.

Joelho é a biografia duma moça.

As quedas, as subidas, as vertigens.

No joelho está toda a mulher e sua dobradiça misteriosa que não carece de óleos.

A bicicleta, o skate, a rua, a trepada na pedra no acampamento, a distração, uma quedinha de nada no casamento, o porre, a existência, um descuido no pé de caju ou siriguela, como minhas lindas primas.

Joelhos.

Quando lembro dos meus mundos, só lembro dos joelhos.

É sempre minha primeira curiosidade sobre elas. Que queda foi essa?

Projeto Camus: a queda. Nossa!

Amo demais da conta. Sem esse papo-cabeça de existencialismo. Joelho pelas pequenas cicatrizes mesmo.

Já reparou nos joelhos da sua amada hoje, amigo?

Pode mirar também, assim como não quer nada, os joelhos executivos da sua colega poderosa de firma.

Mulher é joelho, mesmo que nunca nos peça, ajoelhada, para não largá-la.

Joelho é a melhor forma de ouvir a sua mulher agora.

Bicicleta ou queda por um vagabundo vira-lata?

Não importa. Ouça.

Pense na rótula. Ah, sim, foi uma queda no carnaval de Olinda. Foi qualquer coisa, pelo menos se interesse, amigo, quando a mulher narrar a biografia dos seus joelhos.

Ela estará contando só o que importa.

Mulher é joelho, joelhos, os dois aos mesmo tempo.

Eu rezo por elas.

Não tenho religião fixa, mas elas são minhas devoções permanentes.


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