Quando estamos na busca daquela pessoa que te
faça sentir uma sensação diferente no estômago, vale de tudo um pouco e apelar
até para as mandingas, como colocar o coitado do Santo Antônio de castigo. Se
bem que se eu for comparar minha busca com a de alguns colegas, o coitado do
santo casamenteiro já virou foi refém.
Muita coisa nos colocamos para mudar, essas
mudanças são complicadas, semelhantes a mudar de casa. Só não é mais complicado
do que mudar de sexo. Ou mudar de mulher. Ou mudar de marido.
Confesso que até ouvindo aquela boa música do rei
Reginaldo Rossi: “Hoje eu quebro essa mesa /Se
meu amor não chegar/Também não pago a despesa
/Nem saio desse lugar/Tem tanta mulher me olhando
/Querendo me conquistar/Acabo me desesperando
/Se meu amor não chegar
/Nem saio desse lugar/Tem tanta mulher me olhando
/Querendo me conquistar/Acabo me desesperando
/Se meu amor não chegar
que o DJ imaginário solta a trilha “Mudanças”.
Mudar é bronca, mesmo no meu caso, que farei a
menor mudança do mundo: apenas um gato e um pendrive com as crônicas do amor
louco para eventuais reciclagens.
O pior da mudança, mesmo com o meu desapego
adquirido com a práxis cigana –não com as ilusões do orientalismo de boutique-,
é tropeçar nos objetos que marcaram, de alguma forma, os ex-amores.
Sem se falar nas cartas no fundo daquela gaveta
esquecida, caligrafia caprichada de moça que ama, os beijos de batom impressos
para sempre, as promessas, venho por meio desta… Uma romana me mandou uma
fábula de Morávia…
Os utensílios do lar também falam alto, repetem
antigas declarações, nos lembram velhas dores mumificadas. Aquele escorredor de
macarrão que matou nossa fome dominical com tv a cabo e DVDs incompreensíveis.
Desapego. Cavaleiro solitário vende/doa tudo.
Viva mais um ritual de passagem e mudança.
Aqueles lençóis que encobriram nosso desamor final e nossa preguiça de
segunda-feira, nossa inércia, o edredon que abafou e adiou o “the end” e os
créditos finais do nosso filme.
Solta a voz, Vanusa!
E como a gente guarda coisas que nem sabia
tê-las. Assim como cartas, papéis avulsos, recortes sentimentais que julgávamos
esquecidos. Qual o quê, basta uma polaroide borrada da Cindy para rebobinar um
amor que não houve.
É mandar tudo para a feira Benedito Calixto dos
amores perdidos ou para a rua do Lavradio das paixões rústicas, trincadas e
envelhecidas.
Mudança é trabalheira por dentro e por fora.
Vamos nessa. Um passo à frente e você não está
mais no mesmo lugar, já dizia o filósofo do mangue.
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