O projeto Encontro
Mi Mawai tem a terceira edição selecionada pelo Rumos Itaú Cultural e prevê, diferentemente das
anteriores, sua realização na própria aldeia, expandindo as trocas de
conhecimento entre artistas da cidade e da floresta e abarcando mais
integrantes do grupo indígena. Os workshops orientam os participantes sobre
técnica vocal, prática e construção de instrumento, sensibilização rítmica, harmônica e melódica, práticas de
composição, técnicas de gravação audiovisual e performance
De 12 a 24 de março, os músicos,
produtores e educadores Luiz Gabriel Lopes, mineiro, Rafael Rocha e Fábio Lima
– ambos do Rio de Janeiro –, o diretor de fotografia, também carioca, Lucas Canavarro e a cineasta argentina Chaya Vasquez, estarão
no município de Jordão, no Acre, com os professores
Huni Kuin Pajé Miguel Siã, Tuim e Rita Sales Dani. Todos se encontram para ministrar oficinas de
música e audiovisual aos jovens indígenas do Grupo Kayatipu – composto por 15
integrantes e criado em 2013 – e para demais pessoas interessadas, da mesma
etnia ou não. Um jovem de outra aldeia será escolhido para aprender e passar o
conhecimento ao restante.
Serão 15 dias de aprendizado na
aldeia, com o intuito de fortalecer a autonomia e as capacidades técnica e criativa
do grupo, para a produção musical e audiovisual. Kayatibu e Encontro Mi Mawai foi contemplado pelo Rumos Itaú
Cultural 2017-2018 e é de autoria da Huni Kuin Rita Sales
Dani e das
não-indígenas Carou Trebitsch e Nana Orlandi. O projeto também visa, por meio
de trocas de saberes entre pessoas da cidade e da floresta, aproximar os
dois mundos por meio dessa linguagem artística.
Os conteúdos abordados nas vivências
são direcionados à técnica
vocal, sensibilização rítmica, harmônica e melódica, práticas de composição,
técnicas de gravação de áudio e de vídeo, performance, prática de instrumento –
como violão e percussão, além da fabricação de uns deles. Alguns instrumentos,
escolhidos por eles, foram comprados para o Ponto de Cultura Kayatipu,
construído pelo grupo em 2016 e localizado na cidade.
“O djambe, que estava na lista
aquisições, mandamos fazer ao invés de comprar”, conta Carou. “Entramos em contato com Dário
Capua, que constrói esses tipos de tambores e é proprietário e construtor
da Aldeia Akasha, um espaço em
Petrópolis (RJ), construído seguindo o conceito de bioconstrução e inspirado na
arquitetura de geometria sagrada”, explica.
A ação coincidiu com a ida de Edilene Yaka, uma das integrantes do Kayatibu,
ao Rio de Janeiro e lá mesmo foi realizada uma oficina para ensiná-la a
construir tambores, para que o aprendizado seja transmitido aos outros
indígenas. Dentro do projeto, serão levados quatro tambores produzidos para o
Ponto de Cultura.
As atividades serão registradas em audiovisual,
por Lucas Canavarro e Chaya Vasquez, gerando pequenos filmes de caráter
documental. O produto final será disponibilizado no canal de Youtube do
projeto. Os dois são os responsáveis por transmitirem seus conhecimentos
sobre filmagem aos alunos. Ensinam captação de vídeo e áudio, armazenamento
do material, edição, e como utilizar os equipamentos levados.
Os outros professores ficam à frente dos
laboratórios restantes: de sensibilização e regulares. No escopo do primeiro
estão aulas de técnica de áudio, de instrumentos e construção e reparo de
instrumentos. Em técnicas de áudio, os participantes aprendem a manusear
equipamentos eletrônicos adquiridos, como mesa de som, PA e microfones, para compreenderem
as formas de liga-los e operá-los, saberem equalizar o som, como posicionar os
microfones e gravarem áudios.
Na técnica de instrumentos, os temas abordados
são harmonia/melodia, ritmos, postura, dinâmica, timbre, entre outros. Também entram
em contato com a estrutura dos mesmos – as cordas, percussão, sopro. No momento
de entenderem como se faz o reparo ou como se constrói um instrumento,
exercitam a observação, a prática e compreensão das propriedades do som e suas
manifestações. O intuito é despertar o olhar para objetos cotidianos e suas
potencialidades como instrumentos musicais.
As
oficinas regulares são direcionadas às práticas de conjunto, de
composição/criação e gravação. Neste período, os alunos gravam canções, fazem a
pré-mixagem, audição das músicas e, ao final, entram em clima de confraternização,
com uma apresentação de encerramento. Esta etapa começa com encontros regulares
para tocarem juntos, aprimorando
a percepção e acuidade auditiva, a comunicação visual e a capacidade de pensamento
musical ágil, desenvolvidos a partir de jogos lúdicos e prática de canções. Compõem
músicas estimulando a capacidade criativa e busca de elementos tradicionais ou
cotidianos da realidade local.
Tem ensaio, aperfeiçoamento da performance musical em grupo, trabalhos
que envolvem conceitos básicos de dinâmica, textura, orquestração, arranjo,
escuta e conversa sobre referências musicais e audiovisuais de diversos
universos estéticos. Os participantes também são convidados a assistirem vídeos
de performances ao vivo de artistas e grupos, videoclipes e trechos de shows. O
aprendizado é registrado, as composições tomam formas, ganham arranjos e tudo é
eternizado em vídeo, em um documentário musical, com trilha sonora.
Grupo
Kayatibu
Foi criado em 2013 por jovens indígenas Huni
Kuin, que moram no município do Jordão (AC), e desde então estudam canções,
histórias, danças e arte do seu povo, aprofundando sua bagagem ancestral e
expandindo sua expressão criativa. Formam um grupo musical que realiza festas e
apresentações em festivais dentro das aldeias da região. Em conjunto, fazem cerimônias
com o Nixi Pae – para eles, o cipó – e medicinas sagradas.
Em 2016 construíram um Ponto de Cultura com sede no bairro Huni Kuin do Jordão, uma Kupixawa – construção ancestral feita para receber artistas e pessoas – e um parque de medicinas, com espécies trazidas das aldeias e replantadas na cidade. Com isso, Kayatibu é, cada vez mais, referência para crianças e jovens indígenas e também não-indígenas do município.
Kayatibu e Encontro Mi Mawai
A ideia do encontro surgiu entre os anos de
2016 e 2017 no mesmo momento em que o Ponto de Cultura estava sendo inaugurado.
A primeira e segunda edições aconteceram no Rio de Janeiro, uma em fevereiro e
outra em setembro de 2017, sempre com o objetivo de facilitar o diálogo dos músicos
Huni Kuin com os da cena contemporânea – que a cada dia têm mais interesse pela
cultura e musicalidade desse povo. Em 2018, com o projeto selecionado pelo Rumos Itaú
Cultural 2017-2018, a proposta foi levar o
encontro para o Jordão, para que as trocas entre os envolvidos sejam
intensificadas e para que abarquem mais pessoas.
Sobre o
Rumos Itaú Cultural
Um dos maiores editais privados de financiamento de
projetos culturais do país, o Programa Rumos, é realizado pelo Itaú Cultural
desde 1997, fomentando a produção artística e cultural brasileira. A iniciativa
recebeu mais de 64,6 mil inscrições desde a sua primeira edição, vindos de
todos os estados do país e do exterior. Destes, foram contempladas mais de 1,4
mil propostas nas cinco regiões brasileiras, que receberam o apoio do instituto
para o desenvolvimento dos projetos selecionados nas mais diversas áreas de
expressão ou de pesquisa.
Os trabalhos resultantes da seleção de todas as
edições foram vistos por mais de 6 milhões de pessoas em todo o país. Além
disso, mais de mil emissoras de rádio e televisão parceiras divulgaram os
trabalhos selecionados.
Nesta edição de 2017-2018, os 12.616 projetos
inscritos foram examinados, em uma primeira fase seletiva, por uma comissão
composta por 40 avaliadores contratados pelo instituto entre as mais diversas
áreas de atuação e regiões do país. Em seguida, passaram por um profundo
processo de avaliação e análise por uma Comissão de Seleção multidisciplinar,
formada por 21 profissionais que se inter-relacionam com a cultura brasileira,
incluindo gestores da própria instituição. Foram selecionados 109 projetos,
contemplando todos os estados brasileiros.
SERVIÇO:
Rumos Itaú
Cultural 2017-2018
Kayatibu e Encontro Mi Mawai
Oficinas de música e audiovisual com jovens do
Grupo Kayatibu
De 12 a 24 de março
Local: Aldeia Huni Kuin, no Município de Jordão
(AC)
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