Uma das razões pelas quais a ponte
sobre o Rio Madeira, no Distrito de Abunã, em direção ao Acre, ainda não saiu
do papel - aliada à falta de habilidade dos políticos acreanos em aproveitar o
capital político que acumularam - é o fato da referida obra ofender, pelo menos
em nível de prioridades, diretamente o planejamento econômico estratégico do
Estado de Rondônia, desenhado pela Federação das Indústrias daquele estado, com
o consentimento dos senadores Blairo Maggi (MT), Ivo Cassol (RO) e Eduardo
Braga (AM).
A estratégia de Rondônia, com apoio
de Mato Grosso e Goiás, dois gigantes do agronegócio exportador, é consolidar
uma rota alternativa de exportações pelo Oceano Atlântico. O novo corredor vem
sendo articulado por eles como alternativa acessível à internacionalização dos
produtos rondonienses e às novas parcerias comerciais. O foco do Acre, como
sabemos, é a saída pelo Oceano Pacífico através da complicada Rodovia
Interoceânica e seus quase invencíveis problemas de desmoronamento.
Pois bem. É por isso que eles, os
rondonienses, estão construindo uma ponte sobre o mesmo Rio Madeira, porém, em
direção ao Caribe, através da BR-319, entroncamento com a BR-17, que liga
Rondônia a Manaus, Boa Vista, Caracas (Venezuela), Caribe e às Guianas. Não é
por outra razão que a Venezuela e Chile, na América Latina, são os principais
destinos das exportações rondonienses e, Peru e Bolívia, os principais destinos
das exportações acreanas. Existe uma guerra silenciosa entre os interesses do
mercado andino em confronto com os interesses do mercado caribenho.
E é exatamente aqui neste ponto que
entra o tema “prioridade”, tão enfaticamente presente no longo arrazoado
apresentado nos últimos dias pelo Senador Jorge Viana para, numa tentativa em
vão, justificar o injustificável.
E é amparado por essa verdade, que
repito mais uma vez: foi por ter inclinação por essa tese (a dos barões do
agronegócio) que o ex-presidente Lula, que se dizia amigo do Acre (aliás, os
Vianas diziam que ele era), priorizou a construção de uma ponte sobre o mesmo
Rio Madeira, porém, em direção ao Amazonas. A referida ponte será entregue
ainda este ano e é comemorada como uma das mais importantes e estratégicas do
vizinho Estado de Rondônia. E é mesmo.
A prova de que os interesses do Acre
foram alvo de severo e grosseiro descaso é que no Plano Plurianual para o
período de 2008/2011, onde foram definidas as metas e as prioridades daquele
quadriênio, o empreendimento de construção da ponte em direção ao Acre foi
solenemente ignorado por meio de um veto do ex-presidente Lula. Lula retirou da
obra o carimbo de prioritária. Sem esquecermos do pouco caso do DNIT e seus
corriqueiros escândalos licitatórios. O TCU ajudou a retirar o véu do
desrespeito aos nossos queridos irmãos acreanos. Está tudo aí para quem quiser
ver e tiver disposição para procurar. Não, Jorge Viana! Não, não e não! Não foi
dado tratamento prioritário.
O Acre, infelizmente, dispensou uma
oportunidade política de ouro por conta dos delírios, da arrogância e da falta
de compromisso dessa gente. Foram hegemônicos! Concentraram quase todo o poder
político local e nacional e não conseguiram fazer valer um acordo
Internacional, assinado aqui mesmo no Acre em 2000. Todos lembram, Lula veio
aqui falar dele.
Estou me referindo à “Iniciativa para
a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana”, o IIRSA, que é um
programa conjunto dos governos dos 12 países da América do Sul que visa a
promover a integração sul-americana através de uma série de investimentos em
grandes e importantes obras de infraestrutura estratégica.
No referido plano, gravemente
ignorado, está escrito, em letras garrafais, que a ponte sobre o Rio Madeira,
no Distrito do Abunã, seria parte integrante e vital da referida ação de
governo, mas não foi o que aconteceu.
O governo brasileiro, muito mais
preocupado em ganhar eleições do que agir na direção do que se espera, preferiu
se render ao lobby regional em detrimento do interesse nacional e
latino-americano.
Talvez seja porque, do Rio Madeira
para cá, a turma que governa o Acre há dezesseis anos age como leões e,
do Rio Madeira para lá, diante de figuras como Blairo Maggi, Ivo Cassol e
Eduardo Braga, comportam-se como gatinhos recém nascidos.
Se a ponte não for construída por
razões econômicas não deixará de ser por razões sociais. O caos do início do
ano os acreanos de valor não aceitam mais.
Edinei Muniz é professor e advogado
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