Adriano Legnari
Faria*
Empresas com capital aberto, atividades
reguladas ou que faturam mais de R$ 300 milhões ou apresentam patrimônio
superior a R$ 240 milhões são, por lei, obrigadas a submeter suas demonstrações
contábeis à auditoria externa. De certa forma, a partir dessa obrigatoriedade,
essas grandes empresas aproveitaram a transparência para se diferenciarem no
mercado, utilizando essa exigência, num primeiro momento, como ferramenta de
marketing. Hoje, todavia, essa transparência nas demonstrações contábeis
tornou-se acima de tudo uma ferramenta de gestão.
Como as pequenas e médias empresas não
têm essa obrigatoriedade legal, não fazem o mesmo uso desta ferramenta que
passou a ser incorporada como uma exigência do mercado corporativo. Hoje, ser
transparente é caso de sobrevivência. Não se trata de modismo.
Apesar da conhecida importância em ser
transparente, é primordial tratar adequadamente qual será o apelo utilizado
para que o pequeno e médio empresário adote essa postura. Ele sabe que é
importante ser transparente em suas demonstrações contábeis, todavia, acredita
que ficará vulnerável a algo que ele também não sabe o que é. Falta informação
e o grande prejuízo em não ter esse diferencial é que essas empresas tendem a
ficar, cada vez mais, fora dos grandes mercados que adotaram a
transparência como um pilar da Governança Corporativa.
Não existe no mercado empresa que foi
prejudicada por ser transparente, ou seja, por informar ao mercado como vai a
vida financeira da sua empresa. É fundamental para a sobrevivência demonstrar a
sua realidade, seja ela qual for, bem como os seus planos para administrar
eventual desajuste. Quando você não informa com transparência pode parecer que
existe algo a esconder. E os efeitos são a geração de dúvidas, desconfiança,
descredito e, por fim, a não geração de negócio que impede o crescimento dessas
e de qualquer empresa.
Transparência é sim um diferencial, e
se a empresa não tem esse diferencial, é preterida. A fila anda. As grandes
empresas que possuem gestão profissional somente se relacionam com empresas que
transmitem confiança. Essas empresas não compram matéria-prima de empresas das
quais não tenham um grande grau de certeza de que irão receber o produto. Da
mesma forma, não vendem para empresas que não demonstram capacidade de pagamento.
Não fazem negócio com empresas que não administram contingências de qualquer
espécie. Em síntese, as grandes empresas medem de forma sistemática o risco de
relacionamento com as demais. Nesse rol de empresas certamente estão os agentes
financeiros, cada vez mais preparados para análise de riscos de crédito.
Se o empresário não entender que a
transparência gera valor para a sua empresa, independente do tamanho do seu
negócio, se não se comunicar de forma adequada com o mercado, não irá
prosperar.
A ausência de transparência mascara
totalmente o desenvolvimento de qualquer processo de gestão corporativa. É o
mesmo que uma pessoa ir ao médico com problema de saúde e por algum motivo não
ser transparente, ou seja, omitir informações importantes que poderão levar o médico a
diagnosticar e indicar o tratamento não apropriado. Certamente o grande
prejudicado será unicamente o paciente. Numa empresa ocorre da mesma forma. Se
não há uma gestão transparente, sem dúvidas as contribuições dos colaboradores
e de todos que se relacionam com a empresa, não serão adequadas.
As demonstrações contábeis e suas notas
explicativas elaboradas em conformidade com as normas de contabilidade e
auditadas devem demonstrar de forma clara e objetiva a transparência da
empresa. Se a empresa não puder apresentar esse “raio x” ao mercado em que se
relaciona, estará sozinha, contrariando o único objetivo da criação de uma
empresa que é unir várias pessoas, físicas e jurídicas, para fazer algo que uma
pessoa não pode fazer sozinha.
O grande desafio para as pequenas e
médias empresas é ultrapassar a fase de transição e acabar de vez com o viés da
transparência. Transparência não tem que ter viés. Exigir que sejam
transparentes com a sua empresa, mas relutar em ser transparente com aqueles com
quem você se relaciona. No mundo corporativo, cada vez mais, o pensamento
tenderá a ser coletivo, sem espaço para meio termo.
* Adriano Legnari Faria é
Diretor Nacional de FAPMP do Ibracon – Instituto dos Auditores Independentes do
Brasil
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