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MITOLOGIA E A LAVA-JATO

por Amadeu Garrido de Paula*

Nix, a todo poderosa, Deusa das deusas e dos deuses, dos segredos e dos mistérios noturnos, " mãe do bom conselho", que se converte em cruel deidade tartárea, a proferir maldições e castigar com terrores os infratores, generosa e bruxa,  temida por todos, até mesmo por Zeus, gerou vários filhos, inclusive Moros, destino inflexível dos  deuses e dos homens. Os antigos mitos gregos parecem estar de volta ao século XXI. Moros ainda é a senhor do destino.
                                                      
O Juiz Moro, no manejo preciso das leis brasileiras, alterou um destino que parecia imutável. Encerrou nas prisões, sem abuso de poder ou ilegalidade, homens poderosos, emanando sua indignação  das redondezas das Colinas de Hércules, na companhia de sua genitora e de seus irmãos, entre outros, Queres (morte em batalha), os gêmeos Tanato (morte) e Hipnos (sono), Momos (escárnio), Oizus (miséria), Nêmesis (deusa da vingança, justiça e equilíbrio) e Ápate (engano, fraude).  Provavelmente, os acusados não perceberam que os próprios Deuses temiam Nix, que gerara Moros, o senhor de seus destinos. O sistema de propinas tornou-se uma instituição na Petrobrás. Ao ponto de alguns devolvidos se referirem, nos atos negociais, como a "a propina devida", é dizer, não ocasional, inevitavelmente presente, tal como a noite era a de sempre casa tenebrosa de Nix, com todos os seus demônios. Noite filha do Caos, como a tomou Hesíodo, em sua Teogonia: "Lá também está a melancólica casa da Noite, nuvens pálidas a envolvem na escuridão. Antes delas, Atlas se porta, ereto, e sobre sua cabeça, com seus braços incansáveis, sustenta firmemente o amplo céu, onde a Noite e o Dia cruzam um patamar de bronze e então aproximam-se um do outro."

Afinal, o governo do país, forte e inatacável em  razão das raízes plantadas no terreno das grandes massas populares, seus partidos e seus membros, a um tempo, eram beneficiários e avalistas do costume "contra legem"  que se tornara um princípio inerente a todas as transações. O amplo céu estava sustentado firmemente.

Eis que, a partir de achados num posto de gasolina, uma operação da Polícia Federal desencadeou o destino implacável traçado por Moros. Pela primeira vez em nossa história, grandes empresários convivem na amargura dos cárceres, antes só experimentada pelos descamisados. Destino incrível, a poucos meses ou anos.

Não nos regojizamos com prisões, sejam de quem for, no âmbito do precário sistema prisional brasileiro, que não cumprem minimamente  suas finalidades pedagógicas, a exemplo do que mais se verificou na história das punições em todo o mundo. O Estado que retira alguém do convívio social, por ter infringido seus deveres, também não os cumpre. Mas, como era próprio de nosso mágico mundo mitológico, é o destino. Talvez  Moros reserve surpresas futuras para os responsáveis por presídios desumanos, depósitos repugnantes de condenados, culpados e inocentes.

O mundo antigo, medroso e cauteloso, se precavia contra Nix e todos os Deuses. Homens e mulheres se continham, tementes das punições divinas, mais do que sob o Cristianismo. O mundo contemporâneo esqueceu os Deuses e suas regras. Não haveria quem pudesse ameaçar altos executivos, reunidos com empresários em ambientes palacianos, sob o beneplácito do poder político favorecido, que não tinham o mínimo receio de assaltar os cofres públicos. Afinal, imaginavam, o dinheiro não era do povo, mas de uma entidade abstrata e etérea, a inacessível Petrobrás.
                                                            
Por tudo isso, a profunda crise que abala o País era necessária, posto que traçada em nosso destino. Sem essa operação policial e judiciária, e outras iminentes, provavelmente estaríamos vivendo na calmaria sob a qual os homens agem, por tempo indefinido, com absoluta liberdade licenciosa. O mais forte é o mais sagaz, o criminoso mais capaz. Nix e Moros não concordam com isso e mostram o sabor de sua implacabilidade. Os homens seriam melhores e sofreriam menos, se conhecessem  os mitos da antiguidade e se movessem sem irritar os Deuses.

*Amadeu Garrido de Paula é advogado especialista em Direito Constitucional, Civil, Tributário e Coletivo do Trabalho. 

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