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Os seus botões

Durante o despertar de uma manhã, você acorda e está diante de um dos maiores espetáculos da terra: a mulher amada no seu ritual de arrumação, o banho, o creme na perna, os cabides no formato das interrogações e dúvidas - que roupa usar?

Em ocasiões, finjo até que estou dormindo, só para flagrar a beleza sem interferir no show. Dessa forma, ela se apresenta mais naturalmente e oferece melhores ângulos. Cena a cena, os detalhes de meu filme preferido, antes de pedir o café pra nós dois.

Uma mulher se vestindo é infinitamente mais elegante do que uma mulher tirando a roupa. Por mais fina que seja, há sempre um descuido ao despir-se, além da pressa inimiga, claro, nos momentos perdidos na selva.

Seja um Alex Thomas, um garimpo de brechó ou um vestido do magazine mais próximo, não importa, o que vale é o ritual, a combinação de cores, os detalhes, o quadro a quadro que constrói o figurino. Lento, porém lindamente um strip-tease ao contrário.

E o momento da maquiagem? Chego até a passar mal ao espiar ao largo. E nada de acreditar nesse papinho de que “você já é bonita do jeitinho que Deus te fez!” Da Costa, saravá meu pai!, foi uma beleza de homem, mas pinte esse rosto que eu gosto e que é só seu. Com todos aqueles lápis que lhe fazem uma criança brincar de colorir o desejo.

Agora ela anda pelo quarto, à procura do acessório perdido… Seus passos fazem música com os tacos, como é bom ouvir, excitado, aquele ritmo ainda embaixo dos lençóis.

Quando o destino é uma festa, o ritual não é menos nobre, mas ainda prefiro o preguiçoso espetáculo das manhãs – final das manhãs, digamos, porque madrugar ninguém merece.

E sempre rio baixinho do momento da dúvida na escolha do vestuário, quando você suspira, quando você solta o mesmo resmungo de todas as mulheres do mundo: “Não tenho o que vestir!”. Pode ser uma dondoca de “classe” ou uma jovem colegial, que ainda trabalha em lanchonete.

O importante é que você se veste e aquele filme, passa como sonho o resto do dia na minha cabeça.

Aqui me despeço e deixo vocês com aquela canção lindamente brega do Roberto e do Erasmo: “Homem que tem sentimento/ briga por tudo que quer/ ama independente da moda/ macho mas não se incomoda/ de ser um doce com a sua mulher”

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