Ad Code

Responsive Advertisement

O amor eterno e miojo

Quanto tempo dura uma paixão de carnaval? Algumas agüentam apenas uma subida ou descida da ladeira da maternidade, uma passagem de um trio no parque de exposição, um giro por uma quadra da prefeitura do bloco “Urubu Cheiroso”.

Raríssimas ocasiões dão em namoro firme, e até em casamento. Em alguns desses casos de casório, os noivos até fazem questão de casar na mesma data e local do crime: em pleno sábado de Zé Pereira. Palmas!

O bom é que, ao contrário da vida dura, não temos muito o que choramingar sobre as delirantes paixões carnavalescas. Nada de esperar aquele torpedo ou telefonema do dia seguinte. O day after simplesmente não existe. É tudo aqui e agora. A generosa arte do desapego.

Mais do que uma chance para os amadores deixarem todas as sacanagens do mundo para o período carnavalesco, extravasarem a folia da carne é uma aventura sem ego. Pelo menos para o feio e mal-diagramado desse artigueiro.

Você leva um fora e nem liga; a dor é instantânea e o pé-na-bunda é sempre com a maciez de umas delicadas pantufas.

Esquema lava-jato de existência, lavou tá novo; a fila anda e segue o bloco. Assim deveria ser levada a vida, mas quem diz que conseguimos no bafo de onça manter a rotina?

O sexo carnavalesco, então, nem se fala. Se o cara já tem ejaculação precoce, aí é que o mundo o apressa mais ainda. Só sexo-miojo: esquentou, ferveu, adeus.

É tempo de álibi para qualquer humaníssimo fracasso, como as nossas brochadas, por exemplo. Infinitamente mais perdoável. Nesse caso, nem queremos o segundo turno, uma nova chance, como acontece. Nem precisamos depois provar que não somos mesmo essa coisa toda. Simplesmente esquecemos e boa sorte.

O carnaval é uma lição de desencanamento. Vale por mil manuais de auto-ajuda e lições otimistas. Que tal aplicar a técnica no nosso dia a dia, depois das cinzas, quando voltarmos a vida normal? Seria perfeito.

Para que tanto desgosto inventado? Tratemos o próximo como um folião permanente, o(a) namorado(a) como um(a) ficante, levemos menos a sério a vida.

Com licença que vou ali gastar o corpinho na Amadeu Barbosa. Quem sabe dou sorte e encontro o amor da vida, digo, o amor da quinzena, o amor de hoje à noite, o amor eterno enquanto dura o show “Povo na avenida festejando a vida”, o amor possível que mereça esse nome. Afinal de contas, assim como a fama, no carnaval amamos e somos amados pelo menos por 15 minutos.

Postar um comentário

0 Comentários

Ad Code

Responsive Advertisement