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Intimidades and pornografias

Existem várias maneiras de arruinar aquela grande noite. A noite dos sonhos, a noite do meu bem. Uma delas, além da ansiedade que estala no corpo feito aqueles taxímetros dos fuscas de praça das antigas, é tentar reinventar a roda, o sexo, como se fosse possível recriar o Kama Sutra.

 Ao contrário do que propõe a lindeza do lirismo de Manuel Bandeira, as almas até podem se entender desde o primeiro flerte, os corpos não. O cara pode até planejar tudo na cachola, agora saber agradar a moça, são outros quinhentos.

 Não tente reinventar o Kama Sutra nas primeiras noites...A dramaturgia da cama não é para amadores. O sexo é uma coisa tão séria que só deveria ser feito pelos devassos, pelos afilhados do Marquês de Sade e pela madre supe-riora. Não é qualquer donzelo que resiste a ginástica das pernas, à coreografia dos braços e ao bate-coxa propriamente dito. 

 A verdadeira e religiosa pornografia é a intimidade. Como já diz o dito entre amigos, dê dinheiro, mas não dê intimidade, pois intimidade é uma merda. Ai sim, quando atingimos esse nirvana, Bandeira volta a ter razão: podemos até dispensar as almas, sendo que os corpos já se entendem. Ai passa a valer o verso: “Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma”.

 Com esse sexo cheio de pernas e mil e um malabarismos, coisa de quem assimilou das lições taradas da revista “Vip” ou do cirque du Soleil,  você pode levar o seu parceiro a uma bela câimbra ou contusão mais séria. Coitado, ele pode ter que fumar aquele cigarro pós-coito em uma clínica ortopédica ou em um milagroso massagista japonês. E quem sabe até apelar pro vinho do doutor Raiz, que cura tudo no homem.

Caso não seja seu caso, faça como uma das músicas mais famosas do Chiclete com Banana: “Eu preciso encontrar um amor, que me deixe arrasado na cama...”

Texto inspirado do jornalista Xico Sá

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