Ad Code

Responsive Advertisement

Desabonitado é o cacete

Todo homem dito feio ou mal-diagramado, como costumo aliviar para o nosso lado, deve ter o direito sagrado à mentira amorosa.


É fácil ser um Marlon Brando (ah, O Último Tango em Paris!), ou um Brad Pitt, para ficarmos aqui no mundo macho do cinema que serve de colírio para as moças.


É moleza ser esteticamente arrumadinho. Estas criaturas sim, não carecem da mentira. Se tergiversam, se pisam na bola, se aprontam e saem com mirabolantes enredos – cada história monstra sem pé nem cabeça – é por pura cara de pau, safadeza braba mesmo.


Os feios, todavia, dependem da mentira como um burro precisa de capim. Não falo obrigatoriamente das grandes mentiras, das trapaças épicas, trato do varejão dos pequenos enganos, aquela forma sutil e necessária de editar a vida, arrumar as versões para não ser atropelado pela pessoa amada.

Todo macho feio, e a sentença deveria constar da Declaração Universal dos Direitos do Homem, tem direito à mentira, à lorota boa.


É fácil ser um Apol, tudo bem assentado, pele sem as marcas do tempo e, para completar a perfeição, com o bolso farto de grana. O bolso, aliás, segundo algumas moças mais espertas, é o melhor pedaço da nossa lição de anatomia.


Vai ser feio nessa encarnação, amigo, para sentir que sacrifício medonho. Uma provação a cada esquina, a cada festa no recanto da Valquiria, a cada tentativa de sociabilidade ou acasalamento.


Em sendo assim, mentir torna-se mesmo um direito sagrado. Repito: a mentira de varejo, não obrigatoriamente aquela grandiosa da qual falam os Dez Mandamentos e outras tábuas divinas

Coerência e retidão 100% é dever, obrigação mesmo, da cartilha do homem muito bonito. Aí sim, imperdoável possuir todos os predicados e facilidades de um boa vida e ainda assim infringir os códigos morais da boa conduta.


Como é melancólico, como é horrível e triste quando uma mulher flagra um bonitão, um galã salivante de pulhas, fraudes e mentiras.


E o sinal mais óbvio do mentiroso, você sabe, leitora querida, é o falso juramento. Quando o cara aparece cheio de “eu juro, eu juro”, já viu, né, cometeu algum deslize. Fez alguma merda, para usar termo mais chulo, porém mais apropriado a tais ocasiões.


Além da licença poética para arrumar um pouco as histórias e pisadas na bola, deixo aí, meu caro companheiro de infortúnio estético, mais uma vantagem que me foi soprada, de forma espírita, pelo Sérge Gainsbourg: “A beleza, amigo, é passageira; a feiúra é para todo o sempre, amém”.


Sim, o Gainsbourg é aquele cantor e compositor francês do maior hino de motel de todos os tempos, Je T’aime Moi Non Plus.

Postar um comentário

0 Comentários

Ad Code

Responsive Advertisement