A pandemia do novo coronavírus tem revelado um novo modelo de ditadura, que há muito tempo já vinha sendo cozinhada e que se apresenta, em alguns casos, mais tirana que outros tipos de ditadura: é a ditadura da polarização, que se vale de aparatos modernos de repressão para calar, torturar e até matar quem ousa pensar diferente. Esse modelo de absolutismo, que tem, principalmente, nas redes sociais a sua principal tática de repressão, não perdoa: é bárbaro, cruel, desumano. A invasão e os ataques são virtuais, mas, a tortura é real. E o pior de tudo, é que esse tipo de ditadura se reveste de democracia, só porque ao invés de um, existem dois lados.
Na ditadura da polarização o indivíduo, obrigatoriamente, ou é direita ou é esquerda e não há espaço para discussões saudáveis e pluritemáticas. Tudo o que se escreve ou se fala é interpretado como afronta a um dos grupos e qualquer manifestação é o suficiente para desencadear uma enxurrada de injúrias, perseguições, calúnias, difamações e outros achaques a quem teve a audácia de se manifestar. Não importa o assunto, tudo será polarizado, tudo será interpretado como ofensa a um dos lados, em alguns casos, aos dois lados. Detalhe: muitos nem sequer leem ou escutam o que foi escrito ou dito; simplesmente atacam.
A principal característica da ditadura da polarização é a insanidade. Os militantes de ambos os lados não admitem a possibilidade do equilíbrio, da convergência de ideias, ideais e objetivos. Não importa se o inimigo seja comum para os dois extremos, eles sempre estarão em lados opostos, tornando-se fracos e sujeitando todos à derrocada. O consenso é algo desconhecido, muito embora, os extremos digam aos quatro cantos que querem a mesma coisa: o bem comum. A realidade, contudo, mostra exatamente o contrário, pois o que querem, na verdade, é o poder, por isso, o eterno cabo de guerra.
Na ditadura da polarização, cada lado possui o seu líder supremo, a quem os súditos idolatram como se fossem deuses. O líder, tem o direito de mudar de ideia e até mesmo de lado, conforme seus interesses e conveniências. Já os súditos, não têm o mesmo direito e quando ousam fazer isso, são massacrados pelos seus próprios pares.
Como em todo ditadura, na ditadura da polarização, não há espaço para a liberdade de escolhas, apesar de constar como cláusula pétrea da Constituição. Toda e qualquer escolha é julgada e condenada e os mesmos que reivindicam o direito de se manifestarem livremente, não respeitam a liberdade de expressão dos outros, por isso, se acham no direito de calar quem pensa diferente.
Diante dessa triste realidade, é preciso ter a coragem de se levantar e dizer que é possível sim superar a ditadura da polarização. O fato de existirem dois lados, não significa que são inimigos, mas complementares, pois direita e esquerda fazem parte de um mesmo corpo e uma precisa da outra. Além disso, como nos recorda o apóstolo Paulo, “o corpo não é feito de um só membro, mas de muitos” (1Cor 12, 14), e ainda: “o olho não pode dizer à mão: ‘não preciso de você’; e a cabeça não pode dizer aos pés: ‘não preciso de vocês’” (1Cor 12, 21). O corpo não pode ser dividido e os membros devem cuidar uns dos outros, porque “se um membro sofre, todos os membros participam do seu sofrimento; se um membro é honrado, todos os membros participam de sua alegria” (1Cor 12,12,26).
Portanto, a hora exige o fim da polarização para que possamos cuidar, juntos, deste grande corpo chamado BRASIL.
Pe. Jairo Coelho