Um crepe como detalhe

No comprovante de venda da máquina de cartão de crédito está escrito “Lugarzinho bom”. Não é uma denominação fiel. O correto é “Lugarzinho bão”, um carrinho construído de alumínio com luz elétrica, fogão, assadeira e até uma pequena televisão. Tudo planejado e cuidado pelo mato-grossense de 36 anos Fábio Luís de Oliveira. Ele mora no bairro João Eduardo, mas é no Parque Tucumã que garante o sustento de dois filhos e da esposa vendendo batata frita, pipoca e crepe, a especialidade do lugar. “A massa tem um segredo”, confessa, ao se referir à pasta amarelada com que faz os crepes.

Começou a trabalhar aos sete anos, cortando cana de açúcar em Barra do Bugre, no Mato Grosso. Desde então, não sabe o que é ficar sem trabalho. Parece desconhecer a apatia. Certa vez, com perna quebrada, foi servir algodão doce em uma festa de aniversário. “Fui por causa das crianças”, justifica. Ele é uma dessas pessoas difíceis de encontrar. A conversa, recheada de referências bíblicas e religiosas, é de um otimismo incomum.

No Parque do Tucumã, ele começou vendendo maçã do amor. Hoje, além da pipoca, da bata frita e do crepe, já pensa em ampliar a oferta de produtos. Quer fazer churros. Neste domingo do Dia das Mães, ele vai sortear entre seus clientes uma televisão de 21 polegadas de LCD. Quem transita pela BR-364, ao entrar no Parque do Tucumã, vai certamente se deparar com o “Lugarzinho Bão”. E foi lá, em um fim de tarde, que a equipe da “Agência Ideia comunicação" foi conferir o que há de bom no lugar. Comendo crepe, entre uma conversa e outra.

AI_ Desde quando o senhor trabalha?

Fábio_ Trabalho desde os sete anos. Cortava cana de açúcar nas usinas da região de Barra do Bugre, no Mato Grosso, cidade onde nasci. Não parei mais. Não me lembro de ter emprego. Sempre tive trabalho. Já fiz de tudo.

AI_ Por que o senhor resolveu fazer crepes? Isso dá dinheiro?

Fábio_ Sustento dois filhos e minha esposa, que me ajuda. Eu comecei só com maçã do amor, há quatro ou cinco anos, quando o Parque do Tucumã foi inaugurado. Desde lá, eu venho mudando, inventando. O meu crepe, por exemplo. O senhor não encontra um crepe desses em nenhum lugar da cidade.

AI_ O que ele tem de diferente?

Fábio_ A massa tem um segredo [risos]. Ele tem uma massa fina, sequinha, leve. Não é um crepe massudo como tem muitos por aí. O orégano na massa dá um gosto especial, junto com o queijo ralado. A carne de sol é bem desfiadinha, bem fininha. Eu lhe garanto que não tem igual.

AI_ Que garantias o senhor dá?

Fábio_ Olhe... outro dia veio um homem aqui e disse: “Se o seu crepe não tiver catupiry, eu não pago”. Pois eu disse. “Meu amigo, eu lhe garanto que se não tiver o catupiry o senhor não precisa pagar”.

AI_ Ele pagou?

Fábio_ Comeu o primeiro e mais outros quatro.

AI_ Sr. Fábio, quando o senhor vê alguém triste, sem muita vontade de trabalhar, que sensação o senhor tem?

Fábio_ Outro dia veio um colega aqui chorando. Chorava muito por causa que perdeu a namorada (sic). Pensava até em fazer ‘uma besteira maior’. Com conversa, mostrei pra ele que não havia sentido naquele sofrimento; que temos que colocar os problemas nas mãos de Deus; que temos obrigações com a vida. Saiu daqui sorrindo.

AI_ Quais são os seus próximos planos?


Fábio_ Quero construir um restaurante. O senhor vai ver como eu vou construir. Vou conseguir, com fé no Senhor. Vai ser lá no Parque João Eduardo que o governo prometeu começar a construir no próximo ano. Vai ser igualzinho esse aqui, [apontando para o Parque Tucumã]. Eu sonho alto. Eu não sonho baixo, não.
Victor Augusto

Prazer, Victor Augusto, 37 anos, acreano, jornalista e académico de direito. Por isso, criei este espaço onde compartilho minhas experiências e aprendizados. Afinal, acredito que conhecimento deve ser diário para nossa evolução. Por aqui, abordo assuntos sobre estilo de vida, com ênfase em levar uma vida baseada na informação, já que é minha área de formação e atuação.

Postar um comentário

Please Select Embedded Mode To Show The Comment System.*

Postagem Anterior Próxima Postagem