Uma peça teatral que amplifica vozes e silêncios de experiências sufocadas. Esse é o tema central de Memórias de Rádio. A peça fica em cartaz no Teatro de Arena do Sesc, no Centro de Rio Branco, entre os dias 3 e 5 de abril, com apresentações gratuitas. (Confira a agenda no final do texto)
A trama é entrelaçada pela simultaneidade de tempos e espaços, com referências às rádios da década de 1970, aos movimentos de rádios livres e à censura que impera independentemente do recorte histórico.
A narrativa segue três personagens principais: a dona de bar Valda, Sara, uma dona de casa, e Francisco, o elo entre esses dois mundos. Reflexões sobre papéis sociais impostos apresentam-se por meio de diálogos intensos e fragmentados, que são conectados e condicionados pelas ondas sonoras do elemento central da narrativa: o rádio.
A peça é um convite à reflexão sobre tempos, espaços e as múltiplas camadas da vida cotidiana. A montagem é coordenada por um grupo de cinco mulheres, majoritariamente mães, professoras e pesquisadoras, que persistem em produzir arte na Amazônia acreana e é resultado de um longo processo de pesquisa e experimentação cênica.
A artista Juliana Jaya, integrante do grupo, destaca que a peça é, acima de tudo, uma manifestação da vontade de continuar produzindo arte de forma autêntica e desafiadora.
"É a vontade que nós temos de continuar produzindo arte, de dizer o que queremos dizer, do modo que desejamos, assumindo riscos, enfrentando debates e normas que tendem ao encarceramento do pensamento", afirma.
Ela ressalta que esse enfrentamento é feito com integridade e honestidade, mesmo que não seja sem dor ou consequências.
Um dos elementos centrais da peça é o rádio, que surge como um personagem indissociável da trama.
"O rádio produz desejos, sonhos, vontades que passam a ser o desejo real daqueles que o ouvem, mesmo que estejam envolvidos em realidades totalmente distantes do imaginário que ele produz", explica Juliana.
A analogia se estende às redes de comunicação contemporâneas, questionando até que ponto nossas vontades e desejos são realmente livres ou teleguiados.
A montagem desafia a linearidade narrativa, refletindo a simultaneidade da vida real.
"A nossa vida não é linear. Essa falsa sensação de linearidade nos dá um conforto em achar que podemos controlar nossas vidas, mas as coisas estão acontecendo simultaneamente, sempre", comenta a atriz.
Além disso, a peça brinca com outras linguagens, como projeções e personagens interpretados por máquinas, rompendo com os moldes clássicos do teatro europeu. "Talvez incomode um pouco alguma mente mais cartesiana que for assistir", provoca Juliana.
A necessidade de contar essas histórias, segundo a artista, está ligada à urgência de abordar os silêncios do imaginário da cidade.
"Nos interessa mais nos aproximarmos dos seres de carne e osso que habitam esta terra, da qual nós, atrizes, também fazemos parte", diz.
A artista ainda conclui falando sobre como essas histórias se aproximam da audiência.
"São narrativas que poderiam ser de avós, pais ou mães, tão próximas e íntimas, mas também distantes, como um passado onírico de cidades e hábitos que não existem mais. Pessoas que, em sua maioria, são socialmente organizadas para serem esquecidas. A necessidade de contar essas histórias se dá no sentido de se colocar artisticamente em oposição a essa dinâmica."
A peça é baseada na dramaturgia de Gerson Albuquerque, com encenação do Grupo Beco e realização da Caos Produções. O projeto foi aprovado no edital da LPG Arte e Patrimônio da Fundação de Cultura Elias Mansour.
Serviço:
Memórias de Rádio
Datas e horários:
• 03/04: 15h (alunos do Colégio Dom Bosco) e 19h (alunos do Ceja)
• 04/04: 19h (aberto e gratuito)
• 05/04: 19h (aberto e gratuito)
Local: Sesc/Centro
Classificação: 14 anos
Ficha Técnica:
Encenação: Grupo Beco
Produção: Caos Produções
Atrizes: Lília Pontes e Sacha Alencar
Voz off: Adanilo
Direção de Arte e Cena: Juliana Jaya
Figurino e Cenografia: Allana Di Souza
Criação de Iluminação: Lenine Alencar
Técnico de Iluminação: Luiz Rabicó
Apoio técnico de montagem de luz: Spartacos Alencar
Dramaturgia: Gerson Albuquerque
Assessoria de Comunicação: Yuri Rosas
Coordenação do Projeto: Sacha Alencar
Produção: Lília Pontes
Assistente de Produção: Gemina Shanenawa
Design Gráfico, Montagem e Captação de Imagem: Hanna Lydia
Videomaker II e Fotografia: Alexandre Moraes
Edição de Sonoplastia: David de Menezes
Participação Especial: Nilda Dantas, Gerson Albuquerque, Lenine Alencar
Pesquisa: Joana Dias, Juliana Jaya, Lília Pontes e Sacha Alencar
Tradutora de Libras: Juliana Bernardino
Agradecimentos:
A Confraria, SOS Amazônia, Cia Visse-Versa, Centro Cultural Thaumaturgo Filho, Curso de Artes Cênicas-Ufac, Federação de Teatro do Acre, Herbário da UFAC, Diogo Soares, Jorge Anzol, Rafael de Castela, Benjamin Jaya, Eduardo Di Deus e Aldísio Filgueiras.
Realização: Fundação de Cultura Elias Mansour (LPG Arte e Patrimônio)
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