A Embrapa Acre está conduzindo uma pesquisa inovadora que resultou no desenvolvimento de um inseticida orgânico, atualmente em fase de comercialização. A polinização é vital para muitas produções agrícolas, mas alguns insetos podem prejudicar a saúde humana e a economia. Para evitar esses danos, a Embrapa Acre apresenta os resultados parciais de um estudo pioneiro sobre o uso de inseticida orgânico.
O pesquisador Murilo Fazolim, um dos responsáveis pelos testes, explica que a pimenta conhecida como Piper dum, ou pimenta de macaco, foi bioprospectada no Acre nos anos 90. Esta pimenta faz parte de um banco de germoplasma e possui um óleo essencial cujo principal composto, o dapol, atua como inseticida. Apesar de pertencer à família das pimentas, esta espécie não é adequada para consumo humano.
"Ela não serve como condimento e, ao longo dos últimos 20 anos, realizamos diversas avaliações contra várias pragas," diz Fazolim. Embora promissora, a formulação do inseticida apresentou um problema de fitotoxicidade, queimando plantas com folhas muito tenras. Isso significa que o produto não pode ser usado de forma direta.
Para resolver isso, a Embrapa está buscando parcerias com empresas privadas especializadas, a fim de desenvolver uma formulação adequada para comercialização. Fazolim espera que um produto final esteja disponível no mercado em dois a três anos, com um preço acessível para pequenos produtores.
O processo de produção do inseticida começa com o cultivo das pimentas na própria Embrapa. Após a secagem, as pimentas passam por um processo de separação por vapor e mistura com água, resultando na extração do óleo essencial. Este óleo, que ainda contém resíduos orgânicos, é separado após decantação.
Na Embrapa, os insetos utilizados nos testes são criados e alimentados em espaços controlados. Quando atingem a fase adulta, são preparados para acasalamento e, eventualmente, passam pelos testes com o inseticida. Os sobreviventes são separados para novos testes. É importante ressaltar que a pimenta não é recomendada para consumo humano, pois o efeito do inseticida é prejudicial apenas aos insetos.
"O inseto alvo do produto perde a capacidade de desintoxicação ao entrar em contato com o óleo e o dapol," explica Fazolim. "O princípio inseticida é diferente dos comerciais, que agem por neurotoxicidade. Neste caso, o óleo bloqueia o sistema enzimático de defesa do inseto, fazendo-o morrer pelas toxinas alimentares que consome."
Essa inovação permite a combinação do óleo com inseticidas comerciais, reduzindo a dose necessária em até 1/4, o que diminui o impacto ambiental e a intoxicação dos aplicadores. "Esperamos que isso tenha um efeito direto na redução do impacto ambiental e na segurança dos trabalhadores agrícolas," conclui Fazolim.