O rastro de destruição que ficou em Rio Branco após a cheia do rio Acre e que deixou cerca de 50 bairros debaixo d’água tem seus efeitos pós-cheia que começam a ser sentidos com o nível das águas do manancial baixando rapidamente, fazendo com que a Defesa Civil e secretarias envolvidas na assistência às famílias atingidas, enfrentem um problema tão grave quanto a inundação: os desbarrancamentos das margens do rio e, por consequência, das edificações construídas em suas proximidades.
Contudo, a força-tarefa montada pela prefeitura da capital, composta por
Defesa Civil, Secretaria Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos
(SASDH) e demais secretarias, trabalha para minimizar os chamados “efeitos
pós-cheia”.
Exemplo disso ocorreu no final da manhã desta quinta-feira (14), quando,
pelo menos três residências e uma oficina de lanternagem e pinturas, foram
“engolidas” pelo manancial.
Em poucos minutos, equipes da Defesa Civil municipal e da SASDH, com apoio
do Corpo de Bombeiros, já atuavam na assistência aos atingidos.
O coordenador da Defesa Civil, Tenente Coronel Cláudio Falcão, determinou o
isolamento de toda área e iniciou a análise de toda a situação.
“A partir do momento que nós vimos que tem um desmoronamento já de uma residência e de uma oficina que, inclusive, estava com veículos dentro que foram parar no rio, tratamos de isolar a área e fazer uma análise de toda a situação e constatamos que existe risco de desabamento de outras residências. Então nós vamos começar a evacuar as pessoas aqui pelo menos num raio de 100 ou 150 metros para proteger essas famílias. A princípio, sem remover móveis, tirar somente as pessoas para depois fazer nova avaliação de todas as casas para ver as próximas providências que serão tomadas. O importante é preservar as vidas. Esse é o mais importante”, afirmou Cláudio Falcão, que revelou ainda o motivo que levou ao desbarrancamento.
“Toda essa área aqui onde está desmoronando é totalmente de areia, ela não
tem sustentação. Acontece isso a partir da vazante do rio. Então é isso que
está acontecendo. Preliminarmente nós vamos estudar melhor, mas a questão de
ser um terreno de areia faz com que tenha o desmoronamento com muito mais
facilidade. Todas as famílias aqui vão ser removidas e vamos abrigá-las, aí
independente se é aluguel social inicialmente ou abrigo, mas nós vamos retirar
as famílias para preservar as vidas”.
Paralela às ações da Defesa Civil, a Assistência Social do município iniciou
o serviço de acolhimento das famílias atingidas pelo desbarrancamento. Ivan
Ferreira, diretor de Assistência Social da SASDH, reafirmou todo o compromisso
com as pessoas atingidas pelo desastre natural.
“A Defesa Civil acionou a Secretaria de Assistência Social e vamos prestar
toda a assistência a essas famílias. É determinação do prefeito que todas as
famílias recebam nossa atenção. Nesse momento, nós vamos unir forças e prestar
toda a solidariedade. Nós temos os benefícios sociais e assistenciais para
resguardar as famílias que estão aqui. Vamos aguardar o posicionamento da
Defesa Civil, mas enquanto isso já iniciamos os trabalhos de acolhimento com
assistentes sociais e psicólogas e vamos fazer todos os encaminhamentos
necessários, seja com aluguel social, auxílio moradia, cestas básicas, colchão.
Nós estamos à disposição”, afirmou o diretor.
Jesuína da Silva Dias Santos, 87 anos, moradora há mais de 20 anos na
localidade, teve sua casa totalmente destruída. Ela relatou que estava na
cozinha da casa olhando para o quintal observando o rio quando viu a cerca
balançar, para logo em seguida tudo ir desabando. Apreensiva, ela aguardava
reencontrar três gatos que criava com o esposo, um senhor aposentado de 92
anos.
Com a chegada da Defesa Civil municipal, foi o próprio coordenador,
Tenente-coronel Cláudio Falcão que adentrou na casa de Jesuína Dias e conseguiu
resgatar um dos gatos da idosa. Ainda faltaram dois.
“Tem dois, um amarelinho e um todo murucinho (malhadinho). O murucinho é
grandinho e o amarelinho é pequenininho. Que ontem, ele ia passando aqui na
rua, eu peguei ele. Eu estava olhando para o rio, e quando a cerca começou a
balançar lá, foi quando eu falei assim: a cerca está quebrada, vai cair tudo.
Eu corri gritando, corre, meu velho, deixa essas coisas aí e vamos embora. Aí,
quando chegamos aqui, só estava o buraco. Para mim era o fim do mundo. Era uma
coisa que ninguém esperava e eu estou aqui só com a roupa do corpo e o gatinho
na mão. Meu esposo sentado logo lá na casa da filha dele, não aguenta nem se
levantar. Graças a Deus conseguiu sair todo mundo, ele tem 92 anos. E agora
estamos sem casa, mas Deus proverá. Deus me deu 15 filhos, né? Escolhi a casa
do Bruno e ficaremos lá até Deus abrir as portas”, disse emocionada a idosa.
O prefeito de Rio Branco determinou que não sejam medidos esforços e toda a
assistência seja empregada no atendimento a essas famílias.