Seis anos sem meu amigo

“Chega um tempo na vida que ela deixa de te dar e começa a te tirar coisas”.

A frase não é minha, faz parte do roteiro do último filme da franquia Indiana Jones e a caveira de cristal, momento da vida que o herói já não é mais tão jovem e mostra como é frágil quando se trata de perder suas referências, neste caso o pai e ao amigo Marcos.

Há seis anos, às quatro horas da manhã, minha tv ficou só a estática e segundos depois a pior ligação possível, era do hospital informando que meu pai acabava de falecer. Recordo de que imediatamente fui tomado por câimbras enquanto tentava acalentar minha mãe e irmã no corredor da casa.

Sinto muita falta dele aqui conosco, desfrutando de nossas conquistas conjuntas e vencendo as adversidades juntos. Sei que a sua partida foi causada por uma série de fatores e ações egoístas de terceiros, mas Deus sabe o que faz.

Recordo que quando me sentia frustrado ele me dizia para esquecer aquilo que era passageiro e eu faria melhor, pois com o tempo tudo se revelaria e assim acontecia. As vezes os projetos tinham 99% de certeza de que dariam errado e ele dizia para confiar no meu potencial e o sucesso era total. Suas palavras eram revigorantes.

Quando recordo de todo o processo de ter que identifica-lo no necrotério do hospital das clinicas, me veio todo um filme de revolta pelo destrato que deram a ele no pronto socorro e pelo incansável esforço em salva-lo no HC.

A primeira e única vez que assisti ao filme click ele era vivo e estava doente. Na cena que o personagem principal fala sobre família enquanto morria na chuva me fez cair aos prantos e ele veio ao meu encontro pedindo para que eu tivesse calma, pois infelizmente era certo a sua partida. Meu pai me preparou de todos os jeitos e eu só consegui ligar os pontos no dia de sua partida.

Após toda a burocracia de velar e enterrar, pude ficar com o corpo dele, minha mãe e irmã ao lado de alguns parentes e amigos. Não conseguia dormir e fiquei atento a tudo. Na manhã seguinte para o enterro, queria correr daquilo tudo e meu tio Hernilson me abraçou e disse que estava ali para ajudar.

No cemitério não tive forças para carregar o caixão, minha mão parecia pesar todo o meu peso. No hospital eu o peguei nos braços e na hora da despedida as forças sumiram. Nos momentos finais eu disse que perdia meu grande amigo e cai sentado, amparado por amigos e familiares, pois nem em pé conseguia mais ficar.

Meu mundo ficou cinza por um ano inteiro até que em um sonho ele apareceu, conversou comigo na ponta da mesa como sempre fazia e um grande brilho dourado tomou conta do espaço enquanto ele dizia que se orgulhava de mim e que eu fiz mais do que ele merecia, que agora era comigo a missão de cuidar da família. Acordei com os olhos cheios de lagrimas e uma paz no coração.

Meu mundo voltou a ganhar cor com a chegada do meu sobrinho que leva o nome do meu paizão, o Manoel. Manoelzinho não chegou a conhecer o avô em vida, mas cresce com a mesma sensação de amor que receberia dele e a saudade que estica com o passar do tempo.

Meu velho faz falta, mas me deixou um grande legado que ninguém vai poder me tomar. Sei que está lá em cima olhando pela gente e daqui eu mando luz ao mesmo tempo que peço a benção antes de dormir. Benção paizão!

Victor Augusto

Prazer, Victor Augusto, 37 anos, acreano, jornalista e académico de direito. Por isso, criei este espaço onde compartilho minhas experiências e aprendizados. Afinal, acredito que conhecimento deve ser diário para nossa evolução. Por aqui, abordo assuntos sobre estilo de vida, com ênfase em levar uma vida baseada na informação, já que é minha área de formação e atuação.

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