Ela é Helena Gomes do Vale. Dito
assim, o nome não chama atenção. Mas, quando se fala “Tia Tucha”, os apreciadores da culinária regional conhecem bem a
personagem. Com 64 anos, a acreana de Tarauacá criou quatro filhos. Já foi
funcionária pública durante 13 anos na Emater (Empresa de Assistência Técnica e
Extensão Rural). Não aguentou o ritmo. “Precisava fazer mais dinheiro”, lembra.
“Ficava repetindo o mesmo trabalho sempre”. A necessidade de inovar e de
aumentar a renda levaram Tucha a
abrir uma pequena empresa de produção de salgados, marmitas e pequenos eventos.
A concorrência aumentou e ela teve novamente que mudar o foco de atuação no
mercado. Especializou-se em uma iguaria bem acreana. Hoje, em um espaço com
menos de dois metros quadrados, no estacionamento do supermercado Araújo do
Aviário, ela faz tapioca com 61 tipos diferentes de recheio com preços que
variam de R$ 2,00 a
R$ 7,50. O corpo franzino esconde uma mulher de fala firme que não dá muita
margem para dúvidas. Aliás, conversar com Tia
Tucha é construir algumas certezas. Uma delas todo empresário do Acre sabe
bem do que se trata. “Anote aí na reportagem”, ordenou. “O meu maior problema é
mão de obra”. Antes de estacionar a pequena (e nova) caminhonete, duas de suas
funcionárias adiantavam o preparo da comida. Eram duas horas de uma tarde
quente. Enquanto as perguntas eram feitas, ela não parava um segundo.
Preparava-se para atender os clientes: ajeitava refrigerantes, queijo, carne,
guardanapos. Começava mais um dia de trabalho.
Ideia Comunicação: De onde
vem “Tia Tucha”? Por que esse nome?
Tucha: Isso vem de longe, lá de Tarauacá. Onde nasci. Coisa de
criança.
IC: Por que a senhora resolveu fazer tapioca?
Tucha: A história é longa. Eu era funcionária pública. Trabalhei na
Emater durante 13 anos. Mas, eu precisava fazer mais dinheiro. Ficava fazendo
sempre a mesma coisa todo dia. Aí, resolvi fazer salgados, marmitas e eventos.
IC: Não deu certo?
Tucha: Deu, sim. Com esse trabalho, fiz minha casa, garanti o
sustento e a criação dos meus filhos... eu mudei de ramo porque a concorrência
aumentou muito nesse setor. Começou muita gente a fazer salgados (sic) e o preço foi ficando baixo, a
margem de lucro foi caindo. Tive que mudar.
IC: Mas por que tapioca e não outro produto?
Tucha: Eu tinha que fazer uma pesquisa para saber o que fazer. Aí,
eu viajei. Fui para Salvador, Maceió, Recife e João Pessoa. Lá, eu tive contato
com a tapioca feita de outras maneiras. E aquilo foi indo... foi indo... e
alguma coisa dentro de mim dizendo que ‘ia dar certo... isso vai dar certo’.
Voltei decidida a fazer alguma coisa com esse produto. Foi quando fiz um curso
que melhorou as coisas.
IC: Curso de culinária?
Tucha: Não. Eu já tinha experiência em cozinha. Já tinha
trabalhado com isso. Mas, uma mulher do Sebrae de Alagoas veio dar um curso
aqui em Rio Branco
há sete anos. Ela mostrou a valorização não só do produto, mas da forma como se
apresenta as coisas. O curso tinha 40 pessoas. Só eu abri um negócio. As
pessoas diziam: ‘eu vim aqui porque não tinha nada pra fazer em casa’ ou ‘ah!
eu tô aqui pra não ficar parada’. Eu, não. Eu precisava fazer dinheiro. Resolvi
montar esse empreendimento aqui. Falei com a direção do Araújo e eles me
permitiram instalar aqui no estacionamento.
IC: Quantas tapiocas a senhora faz, em média, por dia?
Tucha: [olhou por cima dos
óculos, desconfiada, pensativa] Isso não vou te falar, não. [sorriu] Porque é meu segredo. Mas vou
te dar uma noção para você ter uma idéia. Eu uso, em média, 15 quilos de goma
por dia.
IC: No geral, o acreano gosta de se arriscar?
Tucha: Ah! Isso eu quero que você coloque na sua reportagem. O meu
maior problema é mão de obra. Eu, aqui nesse lugar pequeno, empregava três
pessoas. Uma teve que sair. Estou com duas agora. As pessoas falam: ‘a sua
tapioca é boa. Por que a senhora não abre outra banca em outro estacionamento
do Araújo?’ Mas, como? Eu sou só uma. Já tentei ensinar. Mas, não se
interessam. E olha que o governo dá oportunidade. Tantos cursos... tantas
coisas... mas falta interesse das pessoas. E isso vai demorar para mudar.
IC: A senhora já pensou em sair daqui? Arriscar em outros lugares?
Tucha: Aqui é que é lugar bom para se viver.