Alavancado por intervenções diretas do setor público, o crescimento do PIB do Acre arrebatou um fenômeno já conhecido nos grandes centros: o fortalecimento do setor de serviços e, com ele, o crescimento da oferta de franquias na economia regional. Em 2010, o IBGE divulgou que o Acre teve o segundo melhor crescimento do PIB da região Norte (e o sétimo do país). Na esfera econômica, é um avanço relativo. Mas, é um avanço. Em Rio Branco, que reúne mais da metade da população do Estado, cresce a cada dia o número de lojas padronizadas. Algumas com marcas internacionais de qualidade. O que faz da franquia algo atraente para os empreendedores locais foi o que motivou a equipe do Agência Ideia a entender esse movimento no comércio da região.
A maior parte dos
entrevistados que responde por uma franquia alegou que a “segurança no mercado”,
associada a uma marca conhecida, foi um fator determinante para a adesão. Não
foi o caso de Luiz Figueiredo. Em 1985, ele possuía uma loja de presentes finos
chamada Banho de Cheiro, que vendia
uma colônia muito procurada na época chamada Giovana Baby, d’O Boticário. O volume dos pedidos foi aumentando. A
variedade dos perfumes também. A decisão de montar uma loja exclusiva para
atender à demanda crescente foi questão de tempo.
Em 1992, foi
formalizada a adesão do empresário à franquia mais conhecida no ramo de
perfumaria no Brasil, O Boticário. A
exclusividade e a padronização no atendimento e nas vendas demandaram atenção
especial. “O modelo exigia que até o piso viesse de fora naquela época”, lembra
Figueiredo. Hoje, Figueiredo tem sete unidades, incluindo uma em Cruzeiro do
Sul e outra em Epitaciolândia. Gera 47 empregos diretos. Já tem presença
carimbada para o Via Verde Shopping, com 16 contratações previstas para a
abertura da nova loja. “A franquia é a melhor forma de se começar um negócio”,
ensina. “A equipe d’O Boticário já pensa até na iluminação usada na loja, tudo
o mais é padronizado e isso traz comodidade para o empresário”.
A mais nova adesão ao
formato de comercialização por franquia foi feita pela empresária rondoniense
Mayumi Kadowaki Lemes. Resolveu investir no setor de lavanderias. Optou pela
rede francesa 5àSec que tem no
portfólio o criterioso prêmio da Associação Brasileira de Franquias 2011 e
também o prêmio de “Melhor Franquia”, oferecido pela revista Pequenas Empresas
Grandes Negócios.
Mayumi Lemes está no
Acre há oito anos. Percebeu a carência de um serviço especializado em lavagem
de roupas padronizado. Discutiu a idéia de abrir uma franquia no setor com
familiares. Conheceu o formato da 5àSec
em Porto Velho. Conversou com o franqueado. Foi informada dos custos, taxas de
retorno, necessidades de qualificação de mão de obra e outros detalhes.
Inaugurou a loja em maio deste ano. O empreendimento deu tão certo que já fala
até em expansão. “Acho que, em breve, já vai ser possível termos uma loja
satélite em outra área estratégica para os nossos clientes só para receber as
roupas”, avalia. A expansão, provavelmente, deve vir após o retorno do capital
investido que, de acordo com a Associação Brasileira de Franquias, no caso
específico da 5àSec, varia de dois a
três anos.
Baixo
investimento e bom retorno
O universo das
franquias não vive apenas de grandes investimentos. É possível ter baixa taxa
de investimento com grande impacto no mercado regional. É o caso da franquia Acqua Zero, o processo de lavagem de
carros a seco e com atendimento onde o cliente necessitar. É o que garante
Renan Almeida Machado, dono da empresa Polimax, que trabalha com polimento de
veículos e é licenciado para usar a marca Acqua
Zero no Acre. Está a quatro meses no mercado local e emprega três pessoas. Precisa
aumentar a oferta do serviço, mas tem dificuldade de encontrar mão de obra. “Já
deixei de atender a algumas demandas porque percebi que não teria condições de
atender a alguns clientes”.
Pode
dar errado
Em cinco minutos de
conversa, é possível perceber que Sylvane Gadelha é uma mulher empreendedora. Ela
trabalha com a venda de semi-jóias que são a febre do momento para quem aprecia
acessórios de moda: Gold Skill.
Visita casas, repartições públicas, escritórios, empresas ou atende em casa
mesmo em um pequeno escritório. Viaja regularmente para Cruzeiro do Sul, onde
tem uma representante comercial fixa da marca. O mesmo acontece nos municípios
de Feijó, Boca do Acre e em Boa Vista. A Gold
Skill não é uma franquia, mas, desse universo, Gadelha conhece muito bem.
Há seis anos, ela respondia
pela marca L’aqua di Fiori em Rio
Branco. Insistiu. Persistiu. Teimou. Tentou de novo. Mas, não teve jeito.
Assessorada pelo marido, Antônio Carlos Gadelha, percebeu que as contas não
fechavam. Os custos eram altos e os pagamentos dos royalties dificultavam o lucro, até que o negócio ficou inviável. “Faltou
viabilidade econômica para o empreendimento com o mercado muito restrito”, justificou.
O casal foi aconselhado pela própria franquia a desistir do empreendimento que
será retomado hoje, seis anos depois, por outro empresário.
Cuidado
aos candidatos
1)
Faça uma pesquisa de mercado;
2)
Uma vez identificado qual ramo de
atuação, veja se você tem aptidões pessoais para tratar com intimidade do
negócio;
3)
Se não tiver conhecimento sobre o setor,
procure se qualificar;
4)
Verifique se a marca integra a
Associação Brasileira de Franquias;
5)
Se não tiver capital suficiente para
iniciar o projeto, procure o Banco do Brasil. A instituição tem uma linha de
crédito específica para franquias;
6)
Siga a risca os “manuais de operações”;
7)
A postura empreendedora é sempre
necessária. Não adianta uma boa marca sem bons defensores da sua imagem
Veja
se você tem perfil para ser um franqueado
Não é fácil decidir
onde aplicar o dinheiro acumulado durante tanto tempo e com tanta disciplina e paciência.
Investir no mercado financeiro? Pode ser. Na poupança, o mais tradicional tipo
de investimento? São saídas óbvias. Mas, há outras. A franquia é uma
alternativa que exige muito cuidado antes da decisão. A equipe do Acre
Economia foi até o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas
Empresas (Sebrae), que possui um programa específico de consultoria em
franquias, saber quais cuidados são esses.
Se você é um desses
disciplinados empreendedores que conseguiu acumular capital e está pensando em
investir em uma franquia, é bom ouvir o consultor em franquias do Sebrae/AC,
Lauro Santos.
AI - A franquia é um
bom investimento aqui no Acre?
Lauro
Santos - Depende da franquia e depende da pessoa.
AI – Como posso
identificar?
Lauro
Santos - Vamos supor que você queira montar uma ótica. Você
vai me perguntar: ‘Lauro, o que eu faço para montar uma ótica?’. E eu pergunto:
‘Por que você quer montar uma ótica’? Ao que você diz. ‘Eu já trabalho em ótica
há 20 anos e quero montar minha própria empresa’. E eu pergunto: ‘Mas, por que
você quer entrar para uma franquia’? Sua resposta é: ‘Porque a marca que eu vou
trazer já é uma marca famosa’. E eu pergunto. ‘Essa marca já é famosa no Acre
também’? E você me responde. ‘Não’. E eu aconselho. ‘Então, não vá para a
franquia’. Franquia só é bom quando você tem duas coisas: transferência do know how (conhecimento) e valor de
credibilidade que a marca traz para o mercado.
AI - Que vantagens a
franquia traz?
Lauro
Santos - 93% das franquias não fecham nos primeiros dois anos.
Diferente de uma empresa que não seja uma franquia.
AI - Por que essa
diferença?
Lauro
Santos - Porque você já começa acertando. Você já tem o
respaldo do franqueador. Ele está te passando o conhecimento, a forma de
produzir, a forma de vender, a forma de atender.
AI - Para o Acre,
existe alguma especificidade para o candidato a uma franquia?
Lauro
Santos - Existe especificidade.
AI - Quais
especificidades?
Lauro
Santos - Costume social (cultural), educacional, renda. São elementos
que devem ser analisados para o tipo de negócio a ser viabilizado.
AI - Qual receita o
possível franqueado deve ter antes de abrir uma franquia?
Lauro
Santos - Eu não diria ‘receita’. Eu usaria o termo
‘questionamentos’. Primeiro: a marca agrega valor? Segundo: eu tenho
conhecimento sobre o produto que a franquia trabalha? Terceiro: a franquia é
conveniada à ABF (Associação Brasileira de Franquias)? Quarto: o mercado local
é receptivo ao produto?
AI - Quais as
‘desvantagens’?
Lauro
Santos - A falta de flexibilidade é uma delas. Se a franquia
exige um padrão de mostruário e de apresentação de produtos, você não tem
alternativas. É daquela forma que você tem que apresentar. Franquia é
casamento. A transferência de know how
tem custos altos. Você paga royalties
por utilizar o padrão da marca. Há empresários do setor de franquia, por
exemplo, que não vão para o shopping porque, ao fazer as contas, perceberam que
iriam trabalhar para pagar dinheiro para a franquia e para o shopping. Outros
perceberam que era viável e vão para o shopping. Cada caso exige análise
diferenciada.