Nada como o macho se exibir para a fêmea nos
princípios das conquistas, sejam elas para se arrumar um namoro, romance ou basicamente para o bom
e velho acasalamento, entre outras loucuras de amor. Tudo na base do “ao
infinito e além”. Vale tudo, inclusive gostar das coisas que você mais abomina
na vida como aquele bom, velho e odiado grupo de pagode.
Reiniciar o ritual da conquista é como tentar
realizar os 12 trabalhos de Hércules assobiando e chupando cana. Carregamos,
sem suar, a pedra que tanto pesou sobre o velho preconceito pagogistico.
O que você não me pede chorando que eu não te faça
sorrindo? E o que você não me pede chorando que eu resmungo sorrindo?
O amor e os seus prefácios… Tudo sopra a favor,
podemos até viver de brisa, lendo Manuel Rosas numa espreguiçadeira, ai que
leseira, e debaixo da laranjeira, no fim da ladeira, antes da transa, no
balanço da rede, sob o farfalhar dos coqueiros na sagrada sesta.
A fome de amar, a sobremesa de existir. Primeira,
segunda e terceira conjugações, tudo na ponta da língua, dos dedos, dos
extremos de um homem. Ah se esses dedos falassem! Ou mesmo essas paredes
murmurassem, como estaria lascado para o próximo combate.
Tudo é possível no fio inicial do novelo-mor… Ainda
mais se tiver sido depois de uma espera sem fim, aquele amor que demora tanto a
começar, mas tanto, que bate uma preguiça medonha só de pensar que um dia, mais
tarde do que nunca, vamos ver subindo na tela, nos créditos finais do love
story, o inapelável e caligráfico the end.
Repare bem, uma amiga acaba de me dizer aqui, ao
telefone, o seu último sacrifício do gênero: fez uma interminável trilha pelo
mato, daquelas que deixam até o mais caminhador dos ianomâmis no bagaço.
Tudo pelo bofe. Para completar, o rapaz, um Apolo,
segundo ela, é atleta radicalíssimo. “Moreno, olhos azuis!!!”, ela gasta as
exclamações. O mais é impublicável.
O troço não come carne nem a pau. E ela ama uma
bisteca, um cordeiro, uma picanha, um frango assado, galeto de TV de cachorro,
churrasquinho de gato, salsichão de esquina ou aquele rodizio do Correntão.
Nada de bebida alcoólica. E ela adora um vinho, uma
piriguete, uma farra.
Os sacrifícios dos capítulos iniciais da paixão, do
amor ou do possível amor, minha Nossa Senhora dos Afogados!
O pior, brincamos, é que ele, o saudável bofe, não
come nada que tenha rosto. E a minha amiga, é bom que se diga, tem um rosto
lindo, lindo, lindo. Um espetáculo de rapariga! Ora, ora, quando comigo cruzas
trazes a paixão roxa de todas as musas.
Tudo é possível no momento de bater o centro, dar o
pontapé inicial no namoro, no rolo, no romance, seja lá que batismo tenha essa
arte de juntar duas criaturas para o bem-bom da vida.
Faz-se de tudo. Até sexo em pé numa rede, essa
arte-mor nunca prevista pelos manuais, catecismos ou Kama Sutras. Isso é lindo,
aqui e agora, viva a densidade possível. Depois é depois, aí é só tentar
continuar na arte zen de consertar encrencas, na arte zen de casar ou comprar
uma motocicleta.