E conversar não é apenas um jeito
de obter sexo
Dizem que intimidade é uma
palavra que tem significado diferente para homens e mulheres. Para os homens,
ela seria sinônimo apenas de proximidade física: a possibilidade de tocar, tirar
a roupa e transar. Para as mulheres, a palavra refletiria algo inteiramente
subjetivo. Significaria a possibilidade de ser compreendida de forma profunda e
emocional, com conotações de cumplicidade e acolhimento.
Com base nos meus próprios
sentimentos e no comportamento dos homens com que eu tenho convivido, não acho
que exista tamanha diferença. Nem a noção masculina de intimidade é
inteiramente destituída de sutileza nem as mulheres são completamente alheias
ao teor físico e sexual da intimidade. Mas há uma diferença de ênfase. Os
homens parecem mais preocupados em obter proximidade física, enquanto as
mulheres priorizam algum tipo de contato afetivo e emocional.
Esses, porém, são clichês
que nem sempre correspondem à realidade. Lembro de uma moça com quem eu saí
algumas vezes que preferia transar com gente estranha. “Informação demais”, ela
dizia, “me atrapalha”. E há homens que não se sentem seguros em ir para a cama
com uma mulher sem antes criar uma zona de conforto afetivo por meio do
conhecimento e do convívio.
Dito isso, eu acho a
intimidade essencial e imensamente prazerosa. Todos os tipos. Conversar
intensamente com uma mulher, por exemplo, não é apenas um meio para se chegar à
intimidade física. É um prazer em si mesmo. Algo que os homens deveriam fazer
com menos pressa e com mais cuidado. Desfrutar da intimidade afetiva de uma
mulher é um privilégio que frequentemente tem conotações eróticas, embora possa
jamais tornar-se físico. É prazer sem sexo, assim como existe sexo sem prazer.
Ao escrever o parágrafo acima me lembrei de uma moça que esteve abertamente apaixonada por seu analista durante alguns meses. Por um longo período, esse foi o tema recorrente da conversa entre eles. De início, quando ela me contou, eu achava aquilo meio bizarro, mas, aos poucos, foi fazendo sentido. Ela sentia tanto prazer em dividir a intimidade dela com o psicanalista que a sensação podia ser percebida como paixão, mesmo sem chegado (que eu tenha sabido) a qualquer forma de contato físico.
Mas intimidade não é sinônimo apenas de conversa e informação. Ela significa estar à vontade para ser você mesmo, em várias dimensões. Seres humanos desabrocham nas situações de intimidade. Eles se tornam mais engraçados, mais frágeis e muito mais ousados. Os homens deixam cair a máscara de conquistador e mostram-se mais ternos e mais complexos, enquanto as mulheres podem dar vazão a aspectos menos convencionais da sua personalidade. Isso tudo tende a ser muito envolvente e muito erótico.
Ao escrever o parágrafo acima me lembrei de uma moça que esteve abertamente apaixonada por seu analista durante alguns meses. Por um longo período, esse foi o tema recorrente da conversa entre eles. De início, quando ela me contou, eu achava aquilo meio bizarro, mas, aos poucos, foi fazendo sentido. Ela sentia tanto prazer em dividir a intimidade dela com o psicanalista que a sensação podia ser percebida como paixão, mesmo sem chegado (que eu tenha sabido) a qualquer forma de contato físico.
Mas intimidade não é sinônimo apenas de conversa e informação. Ela significa estar à vontade para ser você mesmo, em várias dimensões. Seres humanos desabrocham nas situações de intimidade. Eles se tornam mais engraçados, mais frágeis e muito mais ousados. Os homens deixam cair a máscara de conquistador e mostram-se mais ternos e mais complexos, enquanto as mulheres podem dar vazão a aspectos menos convencionais da sua personalidade. Isso tudo tende a ser muito envolvente e muito erótico.
Há quem goste,mas eu acho o sexo sem intimidade
uma droga. Coisa de adolescentes e de amadores. Imagine você passar a vida
transando uma única vez com as pessoas – essa é a perfeita metáfora do sexo sem
intimidade. Há o turbilhão da conquista, há a sensação maravilhosa de ver um
corpo nu pela primeira vez, há o triunfo de colocar as mãos num objeto desejado
e... pronto, acabou. O resto é precariedade. As mãos desajeitadas. Palavras que
faltam ou sobram. A vergonha e a insegurança. O cérebro funcionando numa
dimensão paralela. A broxada. O gozo precoce... As possibilidades de erro são
tantas que ninguém com alguma vivência leva a sério um fiasco de primeira vez –
da mesma forma que as pessoas experientes ficam impressionadas com sexo bom de
primeira. É muito improvável.
Sexo bom em geral é precedido de intimidade. Há
tempo envolvido, vivências comuns e conhecimento do outro. Você descobre as
fantasias que funcionam para os dois - e tem espaço e intimidade para lançar
mão delas. Sem esse terreno comum o sexo não avança - ou avança de um lado só,
penso, com uma das partes se sentindo incompleta ou insatisfeita enquanto a
outra se exibe.
Nos últimos anos eu ouvi várias vezes, em tom de
piada, que “intimidade é uma merda”. A queixa se refere aquele momento da
relação em que as pessoas fazem xixi de porta aberta e começam a contar coisas
que o outro preferiria não saber. Eu nunca achei isso ruim. Acho um preço baixo
a pagar pela proximidade física verdadeira, pelo acesso ao corpo e à mente da
parceira. Sem essa intimidade, as relações, mesmo gostosas, não passam de
teatro: todo mundo fica pelado, interpreta e fala alto, mas ninguém se
transforma ou se vincula.
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