A dona do simpático sorriso acolhedor
Quem passa pelo centro de Rio
Branco pela Rua Rui Barbosa, a rua da prefeitura no sentindo estádio José de
Melo, sempre pode encontrar ou fazer um delicioso pedido no lanche e
restaurante Mr. Café de propriedade da dona Mauricélia Maria Lima Nogueira ou
somente dona Maria como é popularmente conhecida.
Nascida no interior do Estado do
Acre, no município de Jordão, uma das cidades mais distantes do país. Dona
Maria deixou o seringal para ser criada e alfabetizada na cidade de Tarauacá,
seu pai, o senhor Antônio Nogueira, o seu “Cuca” pediu a seus parentes de
criação, que a criassem, pois ele não teria como criar Maria por ser a filha
mais nova e porque acabará de ficar viúvo.
Mauricélia foi criada como filha
pelo casal Carlos Gonçalves de Farias e sua esposa Núbia. Com o objetivo de
oferecer uma vida melhor aos filhos, o casal mudou-se com os demais parentes
para a cidade de Rio Branco, onde Maria cursou o ensino fundamental e médio no
Colégio Acreano. Como muitas das jovens na época, nossa personagem dividia seu
tempo entre os estudos e o trabalho para ajudar em casa, e buscar um futuro.
Maria trabalhava como atendente
de vendas na extinta Banho Cheiro até o momento que conheceu o seu grande amor,
o senhor Manoel Coelho de Farias, com quem teve dois filhos e se dedicou a
cuidar das crianças, enquanto o esposo era gerente na antiga Cobalto, um dos
primeiros modelos de supermercado da cidade.
“Eu sempre trabalhei com minha
família nos seringais, quando viemos para Rio Branco me dediquei a estudar, mas
precisei interromper por conta da gravidez. Vivíamos bem na época em que meu
marido sustentava a casa, morávamos com meus sogros, pois ele sempre foi muito
família e ajudava seus pais a tocar as cantinas dos colégios acreano e cerb ”,
relatou Maria.
A primeira decepção
Durante mais de vinte anos, o
jovem casal tocou a venda de salgados e outros lanches nos dois colégios publico,
onde acabavam atuando também como vigilantes dos locais, os mesmo investiam na
segurança do espaço.
“Nós tínhamos esse cuidado não só
com nossas coisas, mas pelo valor sentimental que os colégios tinham para nós,
eu e meu esposo estudamos neles e não concordávamos com o modelo de vigilância
que era feita ou que deveria ser feita, pois os assaltantes entravam para
roubar os ventiladores ou outros objetos e ninguém via nada. Por diversas vezes
deixávamos nossa casa desguarnecida, pois meu marido levava os cachorros para
vigiarem os colégios ou ele mesmo dormia nas cantinas para garantir que ninguém
invadiria”, disse Mauricelia.
Por anos dona Maria e o senhor
Manoel tocaram as lanchonetes, de onde se mantinham e empregavam outros
colaboradores.
“Nós conseguimos criar boa parte
de nossa vida e nossos filhos com a venda de salgados e lanches nós colégios.
Tinha época que empregávamos quase vinte pessoas. Os únicos momentos difíceis
eram os períodos escolares, onde passávamos quase dois meses apertados, pois priorizávamos
pagar todos os funcionários e o que sobrasse, seria destinado a pagar o colégio
das crianças e tentar se manter. Quando o negócio apertava mesmo, sempre
contávamos com o auxilio de nossa cunhada ou íamos ao colégio dos meninos
negociar com o professor Itamar Zanin, que permitisse que os meninos não
perdessem o ano letivo e ele sempre nós permitiu. Sou grata a essa gentileza”,
destacou Maria.
Com a chegada de um novo modelo
de gestão no governo do estadual, o primeiro ato foi fechar a cantina dos dois
colégios. Uma queda para o casal e seus colaboradores.
“Esse foi um momento de grande
frustração e desencanto com quem ajudamos a eleger. Procuraram meu marido e
fizeram propostas de coloca-lo em outros colégios que estavam autorizados e que
seriamos indenizados. Meu marido foi muito humilhado, nossas coisas foram
encaminhadas para o arquivo da educação e quando fomos atrás de reaver o
material, tudo foi saqueado, nossos freezer e geladeiras sem motor ou sumiram,
fogões industriais depenados e em resumo, só deixaram as grades de refrigerante
e água porque ninguém mais compra os vasilhames”, lamenta Maria.
O recomeço
Mas o casal não desanimou e não
poderia deixar a peteca cair, pois ainda precisava da continuidade nos estudos
dos filhos. Em uma das rotineiras visitas a casa de seus pais de criação, Maria
viu uma oportunidade, pois nenhum dos comércios ocais abriam aos finais de
semana. Maria e o marido decidiram vender salgado na garagem da casa de dona
Núbia. Em um ano, o casal conseguiu levantar a edificação do Lanche Farias,
assim eles e os clientes não ficariam mais no sol e nem na chuva.
“Começamos com um fogaréu de duas
bocas, uma panela de óleo onde fritávamos os salgados, um porta guardanapo e
uma mesa. Em um ano conseguimos erguer as estruturas. A medida que a clientela
ia surgindo, eu precisava me reinventar. A procura era tanta aos finais de
semana, que durante a semana passamos a abrir para o café, almoço e fechávamos
a noite. Começou com os parentes, espalhou pela vizinhança e os amigos mais distantes
passaram a comparecer”, relatou Maria.
O novo recomeço
Há cinco anos atrás outra
oportunidade bateu em sua porta, Maria recebeu o convite para trabalhar no Mr.
Café e em pouco tempo, os antigos donos decidiram ir embora e alugar o ponto
para Maria. Mas nem tudo eram flores, um belo dia a antiga dona chegou no meio
do expediente e disse que levaria tudo e que havia vendido.
“De inicio pensamos em mudar o
nome, mas decidimos deixar, já era conhecido pelas pessoas cliente. Todos os
meses pagávamos o aluguel do espaço e do material que arrendamos dos antigos
proprietários. Certo dia a antiga dona chegou e disse que havia vendido tudo e
enquanto atendíamos ela foi esvaziando o espaço. Foi um grande impacto vê tudo
ir embora em um instante. Não abrimos no dia seguinte. Nosso fornecedor de
empada perguntou o que havia acontecido e explicamos. Prontamente ele se
ofereceu a nós ajudar e levou em uma loja, onde o dono nós ofereceu o que
precisássemos e pagar na promissória. Foi uma compra de quase R$ 20 mil e pagamos
cada centavo e hoje ninguém toma nada que é nosso”, desabafa Mauricélia.
A Família
Há três anos dona Maria perdeu
seu grande companheiro por negligencia médica. Manoel deu entrada no Pronto
Socorro com problema de hérnia. A família comunicou que ele era paciente em
tratamento de hepatite e que não poderia tomar medicação que fosse para o
fígado. Nenhum dos avisos adiantou, seu Manoel deve a doença avançada com a
medicação, foi para o Hospital das Clinicas, onde tentaram reverter o quadro,
mas a demora em transferi-lo contribuiu para a debilidade do paciente, como
relata a filha, Vanessa Cristina Nogueira de Farias.
“Foram nove dias de muita luta e
sofrimento com a doença do meu pai. Ainda temos a má lembrança que alguns
atendentes do Samu fizeram com meus pais, como a falta de cuidado com eles,
principalmente meu pai que estava muito frágil. Minha mãe ao pedir que fossem
mais cuidadosos recebeu a resposta que ela deveria procurar o prefeito para
acabar com os buracos. Meu irmão e a família mobilizaram a família e amigos
para conseguir a medicação que estava faltando. Lamentavelmente meu pai não
resistiu”, lamenta Vanessa.
Os filhos assumiram o lugar do
pai em auxiliar a mãe, que enfrentou uma depressão. Dona Maria se reergueu após
o nascimento do neto, Manoelzinho, o paparico do empreendimento.
“Eu só tenho a agradecer a Deus e
meus filhos por me auxiliarem quando eu já não tinha forças e animo, sem deixar
de lembrar nossos funcionários que são quase membros da família e me ajudaram a
levantar o Mr. Café. Hoje somos em quase dez pessoas envolvidas com o Mr. Café.
Levanto as madrugadas com meu filho para adiantarmos o café da manhã dos nossos
clientes, onde funcionamos até às 14h. Depois que encerramos o almoço eu volto
para casa e fico curtinho meu neto, enquanto meus filhos fazem a feira para o
dia seguinte de trabalho”, comenta Maria.
O Mr. Café funciona de segunda a
sexta das 6h às 14h com café da manhã, lanche e almoço. Dona Maria também
recebe encomendas pelos números 9 9963-4929 ou 9 9979-1100.